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domingo, 29 de setembro de 2013

O TREM















O trem vindo distante 
se faz lindo, brilhante; 
sob o Sol cintilante,
sobre os trilhos avante;
seu som pesado de metal;
seu apito a chamar geral;

se integra à beleza, 
no ponto das grandezas,
e as estrelas em festa, 
quando na noite apresta,
como cometa passante, 
de luzes lancinantes.

Desperta sonhos de viagens , 
desejos , fantasias , miragens
em corações românticos sonhadores,
em aventureiros conquistadores...
E quantos na estação vão se achar,
no desejo louco de viajar...

E tantos ficam vacilantes na estação
pensando se pega o trem ou não...
Veem chegar , parar ; seguir o trem, 
e não vencem um medo de pegar o trem, 
que levará mais uma cara para passar...
Outros embarcam sem muito pensar.

Vivem dilemas os desejosos do trem; 
por histórias que contam sobre o trem:
‘ que o trem carrega uma maldição,
e que aprisiona tudo quanto é coração,
condenados a eternos viajantes, 
sem mais viver a vida livre de antes’

Uma vez eu sonhei embarcado no trem;
e quando vi, já estava dentro do trem;
e senti um arrepio por estar no trem,
pois sabia, não podia mais sair do trem.
Não lembrava a hora de entrar no trem;
e comecei a andar pelos vagões do trem.

Logo no vagão em que me encontrava, 
tinha uma gente que se assustava;
compenetrada , sobressaltada, 
numa sala de estar arrumada;
idosos tricoteando ,cartas jogando;
bibelôs antigos enfeitando.

Como cena de crime era um outro vagão:
sangue espalhado em volta e pelo chão;
n’outro vagão, jovens curtindo bacanais,
entorpecidos de vinhos e fumos e mais;
em outro gente grave de ternos , vestidões
e um livro na mão; com suas explicações. 

N’outro, senhores jogando em mesas,
copos de bebidas , cigarrilhas acesas,
entre gentes mal encaradas,
outras desmaiadas, embriagadas...
Prostitutas entre meliantes
de gestos agressivos , desafiantes... 

Outro vagão era um cavernoso ambiente: 
sombrio, com estranhas gentes 
conversando segredos estranhos, 
e olhavam de um modo tacanho...
Um outro vagão era fétido , com detritos,
e vinham de lá abafados gritos...

Havia um vagão repleto de indigentes, 
acamados, prostrados, doentes ,
e outros lhe contavam histórias por amor:
dramas , tragédias , comédias e até terror;
e assim lhes esperançavam no sofrimento,
falando de finais felizes após tormentos.

Num vagão, um padre ante a cruz, rezando
e fieis de terços nas mãos acompanhando.
Outro vagão era um labirinto assustador,
com um minotauro rugindo com furor...
N’outro vagão, a morte : foice e capuz,
e um corpo estendido ; ambiente sem luz... 

E assim o trem se afigurava 
no sonho que nele sonhava; 
e passava por desertos de entediar,
cidades fantasmas, mangues e beira-mar , 
lugares primitivos , atrasados, 
onde o trem era até atacado.

Um vagão tão vazio encontrei;
numa enorme poltrona lá me sentei,
frente à janela para a planície lá fora;
e ali me descansei em boa hora.
Tirei um sono de tão cansado,
e sonhei num trem tresloucado:

pois este se ia pelo fundo do mar,
por abismos de fogo a enfumaçar; 
bordas de penhascos contornava; 
subterrâneos escabrosos rasgava; 
o espaço solar ia riscando,
entre as estrelas, viajando... 

Acordei com um solavanco do trem;
e também acordei deste sonho de trem, 
de frente para a estação do trem...
Eu cochilo vendo o movimento do trem,
as gentes na estação que vão e vêm,
os tantos trens que vão e vêm...

Daqui do alto onde moro tenho a visão
de lá em baixo, o movimento da estação.
Vejo trem chegar , trem parar , trem partir;
levando e trazendo gentes no ir e vir...
Lembro os tempos que quis viajar no trem,
e então acabo sonhando com o trem.

Vem mais um trem lá distante; 
se faz tão lindo, brilhante;
sonhadores , aventureiros,
na estação são os primeiros;
outros ficam imaginando
a vida, neste trem , viajando.

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