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sexta-feira, 4 de setembro de 2015
DOIS DEDINHOS DE PROSA
Sobre versos , poemas,
já desde a certa altura dos meus tempos estudantis
que por tal forma de escrito
comecei a tomar gosto
lendo textos assim
no meu livro escolar de Português
apreciava pela distinta disposição das palavras
em linhas irregulares e ainda até mesmo
pelas terminações pares , soando iguais , semelhantes;
sentia-me seduzido
e chegava mesmo até ao arrebatamento
pela maneira da mensagem
chegada a uma graça, a um encanto
num estilo tal de admirar,
gerando algum regozijo, algum prazer em ler,
à maneira que feitos geravam esses efeitos;
fosse um sentimento , um aspecto da vida ,
uma historieta,
um ponto de vista , um desabafo , uma ondinha ,
um algo mais sério ,
enfim, dois dedinhos de prosa,
a dizer coisas umas ou outras
que às vezes nem entendia direito,
ou nem entendia mesmo
( uma vez a professora disse
que não se preocupasse em entender
porque se podia ter
o seu próprio entendimento da mensagem ,
pois nem sempre está muito claro
o que o autor quer significar ;
é como se o autor falasse
querendo esconder ao mesmo tempo o que fala ;
ou falasse por código - e então essa pra mim era
mais uma vantagem da leitura de poemas:
a gente podia entender como quisesse ou pudesse ,
e as respostas no exercício de interpretação
estavam quase sempre certas
se eram respondidas com alguma coerência ,
conforme o palavreado do texto )
mas às vezes entendia de um modo especial ,
talvez do modo exato como o bardo queria significar
e percebia a real poesia ali contida , a contemplar...
No ócio merecido do médio concluso
no descanso pós jornada do básico estudado
enquanto não se me afigurava
a sequência que se me ensejaria
nas linhas das páginas
sobradas em branco dos cadernos
eu me iniciei a querer escrever em versos ,
buscando também fazer da forma
como apreciava nos livros didáticos de Português
( não imaginava estar iniciando algo
que se tornaria ainda um fazer em mim nos dias de hoje,
mas viria a me acompanhar
nos percalços das minhas vivências
ainda agora, ainda nos tempos em que ora vivo
como depositário das nuances da minha vida ;
das minhas impressões ;
e longe tenho eu vindo ainda aqui nisso;
algo também em função do advento internético )
e eu viajava que estava escrevendo
como apreciava nos livros de Português
até inventava algumas rimas
mas o que escrevia eram coisas tão mais ingênuas
pensamentos simples da vida em primeira instância
romantismos pueris
considerações superficiais,
pois, que sabia eu sabia do mundo ?
Não sabia da festa, do vento, da estrada,
da broca, da luz...
Então teria que vivenciar meu mundo
para escrever com mais propriedade;
as vivências haveriam de me dar mil assuntos ,
panos pra manga ;
e a poemática me haveria de servir
como depositário de aspectos vividos,
onde me dei de prestar contas
pois teria de afluir em algum lugar
as coisas que se me assomavam
e esta literatura acabou por se fazer o foz
talvez para aliviar, contentar o coração...
Mas ainda que hoje saiba de tanto que não sabia
por árduas vivências
não há por isso nada de novo
ou original nos meus versos
nada de grandiosos , nada de estupendo
é mesmo apenas o meu dever de casa básico
ainda que não seja apenas
simplesmente encheção de linguiça
mas não há nada de espantosamente incomum
que venha a causar alvoroço no meio
que façam os doutores se debruçarem atentos ,
ávidos por encontrar uma determinação
nada que intrigue os doutores
para serem levados a um laboratório para identificar
é mesmo aquele feijão com arroz, aquela cachacinha;
é só um mínimo que posso fazer por mim ante tudo
nesse mundo tornado pra mim cheio de ocorrências;
não tem a profundidade de um beijo ,
mas tem aquele mesmo sol
que ilumina umas almas vagantes
perdidas num escuro existencial
fazendo-se o fim desta escuridão ;
não tem exuberante erudição cultural, tão mais universal
não tem um não sei quê que se vê no quintal do vizinho
mas ainda assim algo me atendem um tanto ao passar
pelo meu parco , pouco exigente ,
modesto controle de qualidade
de parâmetro rudimentar
para um público alvo comum;
não tem aquele potencial de agradar a grego e troiano
e pode nem nunca constar num livro de Português
mas é onde me deságuo desde a nascente
dessas minhas águas.
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