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sábado, 29 de outubro de 2016

DA MONSTRUOSA CRIATURA









                                                        

Foi um tenebroso e intempestivo fato

que nesses versos ainda chocado relato;

pelo que me fez o espírito conturbado

causando-me espécie, tal impactado

pelo efeito da tão monstruosa figura


que tão mais abominável se afigura

que por meu descuido na lida entretanto

deu de cara comigo pro meu espanto.

Triste vulto, que se alguém me contasse

que existe, talvez eu não acreditasse;

e eu que já andei tanto como a vagar

noites, madrugadas, estradas, beira-mar

por ruas desertas, ermos , travessias;

em tempos de procura em que me perdia;

em florestas fechadas , noites dormi

quando da conturbação do mundo fugi;

nessas passagens não vi não mais

do que pacíficos espectros normais

a brincarem mais do que assustar

a se mostrarem sem querer apavorar

ou discretos em seu lugar a ficar

ou somente a algo então comunicar;

só me causaram leve apreensão.

Estava assim já tão certo então

que umas figuras são só imaginação

mitos, símbolos da humana criação;

tinha na razão não existir tal elemento

tão hediondo como esse que apresento:

era algo lá como a Mula Sem Cabeça

não há vivente que disso se esqueça

vociferando em roncos , ameaçadora

rosnando raivosamente assustadora

expelia fogo e fumaça preta pela venta

e era tão enxofremente fedorenta

e bufava resfolegantemente estrondosa

se agitava em atemorização pavorosa.

Eu que achava já ter visto o suficiente

parei quando vi tão repulsivo ente

parecia com a Cuca ou uma fera tal

com um semblante terrivelmente mortal

do cão chupando manga era a caricatura

redundância de aberração era a criatura

poderia mesmo defini-la como minotaura

e tão densa e escurecida era sua aura

tinha um procedimento de Vaca Louca

de carregada histeria que não era pouca

e de sua bocarra escorria baba gosmenta

e eu morria de medo daquela coisa nojenta

até que me aliviei da dramática tensão

quando deu meia volta o abjeto ser então

levando à frente a cavernosa carranca

eatrás a sua alta desaprumada anca

caminhando qual aleijada potranca

pelo modo tão bizarro como manca

deselegantemente desengonçada

arquetipicamente besta quadrada

então aí eu me persignei com fé

e tratei logo mesmo foi de dar no pé

fugindo célere da demoníaca presença

pois a retornar, aquilo estava pretensa...

Ainda em estado de choque, assombrado

atônito , estupefato , bastante abalado

estava totalmente tomado de pavor

o corpo todo trêmulo de tal horror

e aquela imagem iria ainda me perseguir

na minha cama a não me deixar dormir

querendo meu sono em pesadelo invadir

ainda ouvia fortemente seus urros a rugir

ainda a via presente em seus modos de anta

de uma perfeitíssima jumenta e tanta

aquela tão demais mocoronga armação

o infeliz pacote não me deixaria dormir não

e só depois que orei poderosa oração

de volta ao seu inferno se recolheu então.

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